CONTO DE NATAL
Época de Natal. Estou só, na rua. E, como em outras vezes, percebo melhor a solidão. É uma presença quase palpável; tão real, que tenho a sensação da sua companhia. E me parece ouvir o eco dos seus passos, junto aos meus, nas pedras da calçada. Enfio a mão no bolso das calças; aperto a nota de cem reais. É o meu único tesouro: tudo que me restou do salário, depois de pagar as contas. Na casa pequenina, longe deste bairro da chamada “classe média alta”, o café e o pão de ontem me esperam. O frango e o vinho já estão comprados, mas cuidadosamente guardados na geladeira: são petiscos especiais, para a noite de Natal. Não sei porque, uma parte de mim ainda acredita nesta época como um tempo de magia. Estou saindo do trabalho: o corpo cansado, a mente divagando. Uma vaga nostalgia me invade: lembranças de outros tempos, outras crenças, outras idéias. Memórias de uma esperança forte, persistente; que me fazia acreditar nas pessoas, nos sentimentos, na sorte, em um futuro melhor. Na rua, há c...









