CARTA FORA DO BARALHO
No começo, você nem percebe.
Não
que aconteça de repente; é um processo lento e gradual, na maioria das vezes.
Quando você começa a sentir as consequências, já não dá mais pra reverter,
embora você ainda tente.
As tentativas serão em vão e, com o tempo, você vai-se acostumando e aprendendo a
aceitar; exatamente aí, é que mora o perigo. Ou não: afinal, não vão mudar
tantas coisas assim.
É
mais uma questão de status e de respeito próprio. O amor continua a existir e o
cuidado, na maioria das vezes, até aumenta. Você pode ser mais paparicado e
mais elogiado do que antes.
O
que muda é a forma como você é visto; essa diferença se torna
mais fácil de notar, a cada dia. De provedor, você se torna encargo; de
orientador, passa a ser orientado.
Basicamente,
esta é a grande mudança. Pode até parecer que não é muito importante, mas não é
tão fácil digerir essa queda de status, esse deslocamento vertical na cadeia alimentar.
Um amigo meu, gerente de banco, foi repentinamente aposentado. Tinha ótima situação financeira, mas a perda do status da função custou caro: entrou em séria depressão.
Curou-se, graças a Deus; e, depois de curado, passou a viajar pelo mundo, feliz como nunca. Quando se lembrava da fase depressiva, ria e dizia que nunca iria entender porque a teve.
O parêntese ilustra o sofrimento com a mudança abrupta de status. É o que
acontece, quando você sente a diferença que surgiu no relacionamento entre você
e as pessoas que ama.
A sua opinião era a primeira a ser solicitada e a mais ouvida. Aos poucos, se torna menos importante e deixa de ser pedida; as coisas não lhe são perguntadas, mas apresentadas.
É como se o seu direito de opinar diminuísse, até desaparecer; se o envelhecimento não afetasse apenas o seu corpo, mas também a sua mente, a
capacidade de pensar e escolher.
Como
se o passar do tempo não diminuísse só a mobilidade, mas também o
discernimento. As pessoas notam que você não tem os mesmos reflexos e julgam
que nem o mesmo raciocínio.
É uma coisa que não entendo: elogiamos tanto a sabedoria da velhice... e não
ouvimos os nossos velhos. Os mais novos se julgam mais sábios: atualizados
e mais aptos para decidir.
Não é algo novo: vejo este lance desde que era pequeno e acredito que sempre
foi assim; só que eu era jovem e não ligava muito. Agora, percebo que não é
nada agradável para o idoso.
Às vezes, você se sente uma carta fora do baralho.
PERFEITO!
ResponderExcluirPercebi isso muito bem quando meu marido se aposentou. Era o cérebro da empresa, onde mais de 50 anos trabalhou.
Pouco a pouco, foram tudo modificando e, de repente, nem telefonemas para ver se estava bem ou mal acontecem...
É dose!!
abração, chica
Es duro cuando la gente te ignora por tu edad o por cualquier otra cosa. cada persona es valiosa y debe ser escuchada. Te mando un beso.
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