A IDA
Não é questão de se, mas de quando.
Não
é uma possibilidade assustadora, mas uma certeza tranquila; a maior de todas
que podemos ter, neste mundo. Qualquer outra coisa pode falhar, mas a ida, com
certeza, vai acontecer.
Então,
de que adianta gastarmos o nosso precioso tempo em preocupações e angústias
que, em breve, não mais terão razão de ser? Cada minuto que se passa é um que
não voltará.
Esta
é a minha forma de ver o assunto: a certeza da ida não é razão para temores, já
que não a podemos evitar; é, sim, motivação para vivermos o mais intensamente
que pudermos.
Em outras palavras: a morte é a maior razão para celebrarmos a vida. Se sabemos
que o nosso tempo é limitado, percebemos o valor de cada momento; não o desperdiçamos com ninharias.
À
medida que envelheço, percebo melhor isso. Não dá pra esquecer que a ida se faz
mais próxima; mas, longe de deixar-me triste, essa lembrança me motiva a
aproveitar melhor cada instante.
Aproveito
todo o tempo que posso, com meus entes queridos; ouço música (que adoro),
escrevo, vejo futebol e filmes na TV, bebo meu vinho, curto os meus
sentimentos, tento viver a vida.
Busco
evitar aborrecimentos e procuro encontrar alegrias. Fujo de brigas, busco a paz.
Não gosto de discussões, nem preciso que a minha opinião prevaleça; prefiro o
entendimento, sempre.
Não
me incomodo de ceder, de forma alguma. Tenho em mente que o carvalho, orgulhoso
e gigante, finda por tombar ante o vento forte; enquanto o bambu, fino e
flexível, permanece vivo e em pé.
Em cada dia, cuido de não confundir amor-próprio e orgulho. Enquanto o primeiro
nos faz gostar de nós mesmos, o segundo nos leva a crer que somos superiores
aos outros, o que nunca acontece.
Verdade
que já não tenho a mesma energia; muito menos, a mesma aparência. Contudo, não
me sinto mais fraco ou mais feio; em cada estação do ano, a natureza é
diferente. Mas é a mesma.
Reconheço
as minhas limitações. E procuro compensa-las, abrindo novas possibilidades; o
passar dos anos, que nos leva o vigor, aumenta a experiência, que nos indica
sempre novos caminhos.
Sim:
a ida é a maior de todas as certezas; mas não precisa ser a maior de todas as
tristezas. Antes, deve ser a melhor razão para aproveitarmos todas as alegrias;
na vida, o encanto é a viagem.
Aproveitemos,
portanto, a viagem. Nosso tempo acabará, um dia; então, procuremos desfrutar de
todos os momentos. Não os gastemos com tristezas, que muitas vezes não têm qualquer
sentido.
Ame,
não odeie; perdoe, não guarde mágoa; sorria, não chore; acredite, não duvide;
guarde os bons momentos, não riquezas materiais. Lembre-se de que a ida virá, e
a ela não nos podemos recusar.
Não
se preocupe com a ida. Aproveite a viagem.
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