INSENSIBILIDADE


 

Este é um tema que passeia na minha cabeça, há algum tempo; mas de forma vaga, nebulosa. Sabe quando você sente que precisa fazer alguma coisa... mas não sabe bem o que? Pois é. Era assim.

Hoje, li um novo artigo sobre a guerra na Ucrânia e o morticínio que Israel e o Hamas promovem, nas suas hostilidades particulares; lembrei de outros assuntos igualmente tristes, como a mortalidade infantil aqui no nosso Nordeste. Aí, o quadro se delineou na minha mente.

Insensibilidade. Esta é a palavra; e a chave é transformar pessoas em números.

Explico: entre uma mordida e outra no sanduíche, a gente lê que 400.000 pessoas morrem por ano, no Brasil, de ataque cardíaco. E nada sente; por que não são pessoas, mas números.

Aí, o Val Kilmer morre; e a gente fica triste. Porque não é um número, mas uma pessoa. Pior ainda, se for um parente ou outra pessoa querida.

A gente lê que 280.000 pessoas perderam a vida em um tsunami; ou que 2.800 famílias ficaram desabrigadas, com as chuvas, na cidade tal. E as vítimas se transfiguram em meras estatísticas. Nem uma lágrima rola de nossos olhos; porque não são pessoas que vemos, mas números.

Entretanto, choramos ao assistir um filme. Porque, embora saibamos que os atores apenas representam, nós os vemos como os personagens; como pessoas. Por isto, sentimos as suas dores.

Complicado? Talvez. É possível que, diante de tantas misérias que ocorrem diariamente, tenhamos desenvolvido a insensibilidade, como uma espécie de autodefesa. Só as nossas próprias dores atravessam o escudo; ou nós mesmos o abaixamos, quando queremos. Por exemplo, quando vamos ao cinema.

Com a globalização, temos acesso às tragédias mundiais; talvez por isto, apenas reagimos às domésticas. É muita dor para suportarmos. Só mesmo a Carolina para, em seus olhos fundos, guardar todas as dores do mundo; e a Carolina é apenas uma personagem do Chico.

Talvez o nosso egoísmo tenha aumentado. E por isto reservemos a nossa compaixão para as nossas próprias tragédias, aqui incluídas as daqueles que amamos. Sentir as dores da pessoa amada talvez seja a forma mais refinada do egoísmo.

Seja lá porque for, a verdade é que a insensibilidade aumenta a cada dia. E precisamos combatê-la; não podemos permitir que nossos corações vejam pessoas como se fossem números.

Ou também deixaremos de ser pessoas. E nos tornaremos máquinas de contabilizar números...

Vídeo

Encontrei este texto e resolvi republicá-lo, atualizando algumas partes O que acho mais triste, é que o escrevi em 2004. Não parece atual?  

Comentários

  1. Profunda reflexion. Nos convertimos en seres indiferentes y egoístas. Te mando un beso.

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    1. Triste verdade, não é, JP? Parece que, quanto mais evoluem as comunicações, mais o homem se fecha em si mesmo! ;( Meu abraço, obrigado; boa semana.

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  2. ♥♥Querido amigo♥♥
    Un texto para reflexionar, un placer visitarte
    Que la Semana Santa sea una bendición para ti y toda tu familia.
    Que la luz de la Semana Santa ilumine nuestros corazones y nos guíe hacia la paz y la serenidad.
    Abrazos y te dejo un besito
    *♥♫♥**♥♫♥**♥♫♥*--*♥♫♥**♥*

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    1. Um grande prazer a tua visita, Liz! Obrigado pelos votos, que retribuo de coração; meu abraço, boa Páscoa e bom fim de semana!

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  3. Olá, amigo Flávio!
    Um texto excelente para uma Semana que se pretende ser Santa.
    Chorar pelo que se vê é mesmo pouco...
    Números estão todos os dias na televisão e não nos abalamos mais, a insensibilidade tomou conta sorrateiramente dos nossos corações.
    Esperemos que a conversão surja em nós urgentemente.
    Tenha uma semana abençoada@
    Abraços fraternos

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    1. Depende de nós fazê-la realmente Santa, Rosélia, seguindo aquilo que nos ensinou Jesus: amar o próximo, como a nós mesmos! Obrigado, meu abraço; boa Páscoa e bom resto de semana.

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  4. Para cúmulo , Musk ,do alto dos seus milhões e do seu imenso poder ,afirma que a empatia é um mal da civilização e que quando se transforma em solidariedade social tem que ser erradicada!

    Fico sem palavras e completamente destroçada perante o retrocesso mundial a que estamos assistindo.

    Amigo, abraço de excelente semana.

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    1. Tento não permitir, amiga, que as palavras desses abutres me tirem do sério; confio muito na lei do karma, e isso me conforta! Meu abraço; feliz Páscoa, bom fim de semana!

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  5. Bom dia Amigo Flávio,
    Um texto bem pensado e muito atual.
    Infelizmente assim é. A insensibilidade do homem está-se espalhando cada vez mais e os números estão tomando conta da humanidade.
    Há uma enorme indiferença pelo que de grave está acontecendo no mundo e as pessoas não mais se preocupam com o outro.
    É necessário que haja uma maior consciência sobre estes fatores de modo que haja uma inversão de valores, para que a sociedade se torne mais humanizada e justa.
    Beijinhos e continuação de santa Semana Santa.
    Feliz Páscoa!
    Emília

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    1. Inteiramente de acordo, Emília: "É necessário que haja uma maior consciência sobre estes fatores de modo que haja uma inversão de valores, para que a sociedade se torne mais humanizada e justa.". Meu abraço, bom resto de semana; de coração, retribuo os teus votos!

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  6. Fiquei rendida com essa reflexão! Apesar de conhecer a palavra e a usar com frequência, penso que nunca a tinha analisado nesse ponto! Os meus parabéns!

    Bjxxx,
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    1. O pior, Isy, é que ela avança cada vez mais em nossos tempos! Obrigado, meu abraço; feliz Páscoa, bom resto de semana.

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  7. Boa tarde, Flávio
    Texto interessante, a insensibilidade tem tomado conta da sociedade, que possamos olhar o próximo com compaixão, seguindo os passos de Jesus. Feliz Páscoa! Um forte abraço.

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    1. Obrigado, Lucinalva. E concordo: precisamos olhar o próximo com amor, como nos ensinou o Divino Mestre! Meu abraço, amiga; boa semana, feliz Páscoa!

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