APRENDENDO COM OS PÁSSAROS

 

Porquê não, simplesmente, viver?

Esta é a pergunta que não consigo afastar de minha mente; e se torna mais persistente, à medida que o tempo passa. Por que não aproveitamos o tempo que temos, e é tão limitado?

Olho em volta; e vejo que os pássaros apenas voam, brincam e fazem os trabalhos que são necessários. Não se angustiam com o amanhã, não olham a vida dos outros; só vivem.

Não comparam os seus ninhos; nem as suas plumagens, nem os seus cantos. Não invejam, nem cobiçam; cada um está satisfeito em ser o que é, e ter o que tem. Nada mais desejam.

Pássaros não falam de paz; não precisam, porque não fazem guerras. Não se ofendem mutuamente, nem lutam senão quando são obrigados, para defender o seu direito à vida.

Porque nada nos deveria importar mais do que a vida. É a viver, que devemos dedicar cada um dos nossos momentos; não consigo me livrar desta ideia, que me parece óbvia.

Somos como viajantes incautos, tão preocupados com o amanhã e as circunstâncias, que não aproveitamos o hoje. E, na verdade, o destino é o nada; os encantos estão na viagem.

Se conseguirmos ter presente este fato, decerto mudaremos os nossos valores. Porque nada pode haver de mais importante que a vida: ela é tudo que temos, e não vai durar para sempre.

Aí, me pergunto: será que éramos como os pássaros? E, ao vestir os nossos trajes e as nossas gravatas, renunciamos às asas e à liberdade de voar e sentir o sol, o vento e a chuva?

Perdidos em nossas preocupações vazias, esquecemos o que realmente importa. Somos prisioneiros de conjeturas e inquietações, que nós mesmos criamos e nos tolhem o voo.

O irônico é que tudo foi inventado para tornar mais fácil e agradável o nosso viver; e hoje dificultamos a vida, envolvidos na busca de coisas que deveriam torná-la mais prazerosa.

Somos vítimas da nossa própria incoerência. Esquecemos o gosto das coisas simples, no afã de possuir as sofisticadas; deixamos de viver, na luta diária para melhorar de vida.

É hora de aprender com os pássaros; tirar as nossas roupas e libertar as nossas asas. De voarmos novamente, ouvindo a canção da Vida, na voz do vento e nos pingos de chuva.

Talvez não seja muito tarde, e ainda possamos viver.

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