FIM DE TARDE EM ITACARÉ

 

Pode parecer que sou abonado; que tenho grana, não é? Passeios, fotos em piscinas e praias, brindes, essas coisas.

Mas, acreditem, não é bem assim. Graças a Deus, eu e Gilka somos aposentados, e o que ganhamos dá pra viver. É mais ou menos a conta certa, sem sobrar praticamente nada; aquela história de "classe média".

Acontece que moramos em Ilhéus (BA), uma das cidades mais lindas que conheço, perto de uma praia também linda. Além disto, a nossa opção de vida é viver; não juntar dinheiro ou ostentar.

Explico: cada um gasta no que gosta. Tenho um amigo, que nem som tem em casa; mas tem um aquário que vale (e custou) uma grana! Tenho outro que gosta de eletrônicos e gasta um bocado comprando na internet; um terceiro adora vinhos caros, daqueles que, se eu for beber, caem-me os dentes.

Esta é a verdade: o dinheiro é, como o tempo, questão de opção. Há pessoas que deixam de comer, para comprar a entrada do futebol; ou a cachaça; outros, ainda, têm prazer em doar para igrejas; ou gastar com mulheres e jogos, ou roupas.

Enfim, cada um gasta no que lhe dá prazer. E a nossa opção, como eu já disse, é viver. O pouco que nos sobra, gastamos em viajar; conhecer novos lugares, novas paisagens, novos costumes. Normalmente perto de casa, por questão de economia; mas já passeamos por todo o Nordeste do Brasil e até conhecemos, além de Buenos Aires, parte da Europa.

No fim de semana passado, fomos a Itacaré; fica pertinho e é um lugar ótimo para passear. Ficamos em uma pousadinha muito boa, com uma piscina bem legal; e, com perdão do trocadilho, piscina é minha praia! Adoro ficar na água, principalmente ao fim da tarde, bebendo o meu vinhozinho barato e divagando.

E, pensando em tudo que me aconteceu durante todos estes anos, me senti cheio de gratidão. É bem verdade que já errei muito: dei muitas mancadas, que me causaram bons tropeços; mas sempre fui capaz de levantar e seguir em frente, ainda que às vezes capengando.

Hoje, que vislumbro a "cortina final", não sou feliz sempre (e não acredito que alguém seja); mas, na maioria do tempo, estou em paz comigo e com aqueles que me cercam. Consigo conviver com os meus arrependimentos e sou grato às pessoas, aos sentimentos e aos fatos que me trouxeram até aqui.

Bem, mas eu já disse muito sobre isso, em posts recentes. Agora quero só registrar esta sensação de gratidão, por tudo que vivi e por aqueles que fazem ou fizeram parte de minha vida. Acredito que o que somos no presente é consequência do que vivemos no passado; e, se assim for, nada tenho a dizer, além de "gratidão".

Quero dizer que estou bem. Ciente dos caminhos que percorri e me trouxeram aqui; das emoções que vivi e me fizeram o que sou. Sei que, ainda que algo tenha perdido, ganhei e ganho em cada momento que vivi e vivo intensamente.

Gratidão pela vida. Foi isso que senti, naquele fim de tarde, em Itacaré.

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