DE SONHOS E DECEPÇÕES

Antes de reclamar do presente, olhemos para o passado.

Porque nos pertence o livre-arbítrio; e pudemos determinar todos os rumos que nos trouxeram aqui. Tomamos cada uma das nossas decisões, podendo escolher em todas elas.

Como, portanto, podemos reclamar de um caminho que nós mesmos fizemos, passo a passo? Seria como reclamar de Alguém que nos deixou a escolha, em cada momento.

Temos a escolha; este é o maior dos nossos direitos, e a maior ferramenta para o nosso aprendizado. Podemos arrepender-nos de algo que fizemos, mas não culpar a outro alguém.

Como reclamar da pobreza, se atiramos fora as chances que tivemos de amealhar bens? Como nos queixamos da solidão, se houve pessoas que nos ofereceram o seu amor?

Não reclamemos, portanto; mais uma vez, podemos escolher. Porque cada manhã nos traz uma nova decisão; cada sol que nasce, pode iluminar uma nova vida. Um novo caminho.

Em verdade, um minuto é suficiente para mudar o nosso rumo; só precisamos assim decidir. Os ventos sempre mudam, e nosso é o direito de posicionar as velas.

Se, porém, nos deixamos ficar, não nos assiste o direito de reclamar. O homem que se contenta com migalhas, jamais provará o banquete; e o que não anda fica onde está.

Mudemos, portanto, o que não nos agrada. Se nos apetecem os figos, não podemos continuar a plantar macieiras; se nos magoa a solidão, ousemos buscar a companhia de alguém.

Porque, para mudar, tudo que precisamos é ter coragem; lembrar que, para cada sonho que se vai, outro podemos cultivar em nossa alma. Amadurecer não significa abandonar os sonhos.

É mais sobre aprender a lidar com as decepções. Porque elas sempre virão, para quem acalenta sonhos; na verdade, viver é alternar sonhos e decepções. E ainda bem que é assim.

Pois os sorrisos que nos trazem os sonhos compensam todas as mágoas que possam vir com as decepções. Nenhum desengano pode brotar, senão onde antes florescia um sonho.

E é melhor substituir as flores de um jardim, do que viver todo o tempo em um deserto; enquanto duram, as flores perfumam e embelezam o ambiente à volta. Tornam a vida melhor.

O que precisamos, sim, é abandonar o medo; não nos privarmos de sonhar, em nome de uma falsa segurança. Porque de nada vale permanecer onde estamos, se não estamos bem.

De que vale viver, sem sorrir e chorar?

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