A PORTA DO TEMPO
Fechou a porta, sobre o seu passado.
Sem violência, sem rancores. Com a mansa tranquilidade que surge da aceitação tranquila da morte de todos os sonhos.
A vida continua, sempre; o mundo continua a girar. Todos integramos a mesma caravana; e cada um de nós precisa continuar a andar, para que o todo não detenha o seu movimento.
Dormir, comer, beber... e eliminar os resíduos que já não servem ao corpo. Levantar, em cada amanhecer, e esperar que transcorram as horas do dia, até que a noite traga novamente o tempo do repouso.
Horas iguais, dias iguais, sempre. Agora sem o alento da paixão, sem as coloridas esperanças do sonho. Às vezes um olhar, um gesto, uma palavra, trazem de volta as cores... mas os dias se passam, e as novas cores entrevistas também se perdem; mesclam-se ao cinza da realidade.
Cada vez mais, se afastam as lembranças de tempos melhores: de tempos em que a vida oferecia o misterioso encanto da esperança. A esperança de ser diferente; de construir um mundo diferente, onde os sentimentos preenchessem o vazio que cada ser humano traz na alma.
No começo, a ilusão de construir um mundo melhor. Depois, apenas o desejo de construir o próprio mundo: uma ilha encantada; um espaço próprio em que se possa ser feliz, em um mundo que não conhece a felicidade.
Depois, até essa esperança se esvai. A realidade se impõe, e traz a certeza da solidão; a descoberta de que ser diferente é apenas viver só, no mundo onde todos vivem. Uma única pessoa não constrói um mundo. E de que adiantaria construir um mundo, se ninguém existe com quem ele possa ser dividido?
Na aceitação da solidão, a paz de encontrar a si mesmo. E de conviver consigo, de entender e aceitar a sua própria forma de ser. O mergulho no seu verdadeiro Eu, o conhecimento de suas praias e desertos, de seus vales e montanhas.
A paz da solidão. Uma torre invisível, de onde abrimos as nossas janelas para acompanhar as pessoas que amamos, enquanto aguardamos que a luz que escapa pela abertura possa iluminar as suas almas, mostrando o caminho que escolhemos... e no qual gostaríamos de ter a sua companhia.
De uma forma estranha, a temos. Porque a elas nos entregamos, e elas fazem parte de nós. Assim, estamos com aqueles a quem amamos; e eles estão conosco, embora não possam entender a intensidade dos nossos sentimentos.
Assim, suportamos a solidão. E, mais do que isto, amamos a solidão; nela nos encontramos, e descobrimos quem verdadeiramente somos. E – curioso! – Sentimos pena das pessoas que fogem desta doce solidão, para aturdir-se com a solidão acompanhada; que estão sós, em meio aos outros, porque se perderam de si mesmas. E, ao se procurarem nos outros, jamais se podem encontrar.
Fechou a porta, sobre o seu passado.
E,
ao fazê-lo, descobriu que poderia encontrar paz no futuro.
Escrito em maio/2004
Uno debe aceptar su pasado y presente pero sin querer revivirlo para llegar asimilar su futuro. Y si en la soledad nos encontramos a nosotros mismo. Te mando un beso.
ResponderExcluirAssim é, JP; inteiramente de acordo com você, amiga! Obrigado, meu abraço; bom fim de semana!
ExcluirFlávio querio amigo,
ResponderExcluirseu texto é além de belo
um belo tomar de ar e
de coragem para viver a vida
com toda força e de todas
as formas.
Adorei vir aqui nessa
linda noite se sexta feira.
Bjins em você e
na sua Bela Consorte.
CatiahoAlc.
Grato, Catiaho; sempre uma alegria a sua presença, amiga! Meu abraço, bom fim de semana.
ExcluirMuito lindo,Flávio...Fechar portas do passado para permitir que o fururo chegue... Lindo fds! abração,chica
ResponderExcluirAquele que insiste em viver no passado, Chica, deixa passar o presente e não constrói um futuro! Meu abraço, amiga, obrigado; como vão as coisas por aí? Continuamos em orações. Bom fim de semana.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa tarde de Paz, amigo Flávio!
Excluir"Aceitação tranquila da morte de todos os sonhos."
Quanta maturidade!
"A certeza da solidão" pode nos transformar em escritores...
"A paz da solidão" nos dá uma fecundidade imensurável.
É o que João da Cruz ensina sobre a solidão povoada.
Junta-se ao potencial de cada ser e o eu real se torna brilhante.
A solidão a dois a três, etc. é terrível. Deus nos livre dela.
Um excelente texto reflexivo.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos
Obrigado, Rosélia. Concordo com você, amiga: a solidão acompanhada é realmente terrível; é estar só, e não ter o direito de ficar sozinho! Obrigado, meu abraço; bom fim de semana.
ExcluirAmigo Flavio, seu lindo texto é um lembrete de que, embora possamos nos sentir sós, estamos sempre conectados aos outros através das experiências compartilhadas e do amor que persiste além da solidão. Este texto é um tributo à resiliência do espírito humano e à beleza que pode ser encontrada na aceitação da nossa própria companhia. Gostei imenso de ler. Grande abraço.
ResponderExcluirBom saber que você gostou, amigo; tenho em alta conta a sua opinião! Concordo: podemos encontrar a beleza, na aceitação de nossa própria companhia. Meu abraço, obrigado; bom fim de semana.
ExcluirAyer, ya era muy tarde y, antes de irme a dormir, entré en tu espacio y he leído un poco de tu reflexión, me dije que era mejor volver al día siguiente y comentarte con calma.
ResponderExcluirLo digo, por que esta entrada que has escrito se merece una lectura detenida y reflexionar sobre ella.
Quizás una persona joven no hubiera entendido lo que es cerrar la puerta al pasado después de haber meditado sobre lo vivido, pero yo, que ya tengo una larga experiencia, sí entiendo perfectamente tu escrito.
Cuando somos jóvenes, cuando estamos llenos de vida e ilusiones ¡qué poco sabemos de lo dura que puede ser la vida!
No pasa por nuestra mente el que un día perderemos a aquellos que más queremos, que también nos haremos mayores y que necesitaremos más su cariño y apoyo, en fin, que nos encontraremos con un camino de espinas que vamos intentando evadir y afrontar su herida.
Como bien dices, la vida sigue, aunque las ilusiones y el amor se hayan quedado en el camino.
Algo tenemos los humanos que, pese a las adversidades que se nos presenten en nuestro caminar diario y por muy duras que sean, por lo regular siempre solemos afrontarlas y seguir adelante aunque sea en soledad, nos ayuda la resiliencia interior que todos llevamos dentro desde que nacemos.
De más está el que te diga que has escrito un maravilloso texto, es una síntesis de la realidad de la vida. Felicitaciones.
Cariños.
kasioles
Obrigado, Kasioles, e subscrevo o que dizes: talvez um jovem não entenda, mas nós, que já temos uma história, sabemos a importância de fechar a porta para o passado, depois de havermos meditado sobre ele. Meu abraço, amiga; bom fim de semana!
ExcluirMuito belo e verdadeiro.
ResponderExcluirAssim é a vida, passo a passo., uma sucessão de tempos. Resta aceitar, para tranquilidade dos dias.
Beijinhos e boa semana!
Bem como você disse, Fa: aceitar nos traz tranquilidade, para vivermos o resto dos nossos dias! Meu abraço, amiga, obrigado; bom fim de semana.
ExcluirBom dia, Flávio
ResponderExcluirLinda reflexão, a paz da solidão nos faz lembrar que precisamos amar a nossa companhia e também o próximo, um forte abraço.
Assim é, Lucinalva: na solidão, muitas vezes, descobrimos o prazer da nossa companhia; e, a partir daí, aprendemos a amar o próximo. Meu abraço, obrigado; bom fim de semana.
ExcluirBoa tarde Amigo Flávio,
ResponderExcluirUm texto reflexivo muito belo e cheio de verdades incontestáveis.
A porta sobre o passado se fecha, mas outras se vão abrindo. Quanto em outros tempos vivíamos em correria e o trabalho nos monopolizava, nesta fase da vida, temos todo o tempo para admirar o que de tão belo nos rodeia. E não é no meio de multidões, que nos tiram a visibilidade, mas na nossa sã solidão que podemos desfrutar de pequenas grandes coisas qus nos ajudam a passar melhor os dias. Uma caminhada na natureza, junto ao mar admirando um bonito pôr do sol, ou simplesmente em casa desfrutando dos nossos amores ou escrevendo sobre o que nos vai na alma.
É um tempo em que a resiliência tomou conta de nós e podemos viver em paz.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Emília
Bem assim, Emília: "Uma caminhada na natureza, junto ao mar admirando um bonito pôr do sol, ou simplesmente em casa desfrutando dos nossos amores ou escrevendo sobre o que nos vai na alma.". Felizes somos nós, amiga, que sabemos desfrutar desses pequenos grandes prazeres! Obrigado, meu abraço; bom fim de semana.
ExcluirMeu querido Amigo, se tivesse o teu talento poderia ter escrito este texto tão profundo porque me identifico totalmente com as tuas sábias palavras.
ResponderExcluirEstreito e carinhoso abraço no Dia do Abraço.
Os teus talentos são incontestáveis, São. Acredito que todos nós, que temos história e sensibilidade, sabemos a importância de fechar essa porta, guardando os ensinamentos que assimilamos! Meu abraço, amiga; obrigado, bom fim de semana.
ExcluirMaravilloso texto Flavio, siempre habrá en ti sueños aunque hayan muerto los que hasta ahora tuviste, pero ¿sabes? encontrarse desde la soledad es un sueño que no todo el mundo consigue, es maravilloso descubrirse, saber y soportar lo bueno y lo malo, nos ayuda a crecer, a valorar lo que tenemos y a ser personas mejores...
ResponderExcluirDe verdad ha sido precioso leerte
Un gran abrazo
Grato, Carmen, e inteiramente de acordo! Costumo dizer que os sonhos são como as flores: cada um que fenece cai sobre o solo, onde se transforma em adubo; e o outro vem ocupar o seu lugar. O importante, como você diz, é crescermos, valorizar o que temos e nos tornarmos pessoas melhores. Meu abraço, amiga; bom fim de semana.
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