A COR DAS PALAVRAS

 

Eu não sou chegado em cards.

Mas, de vez em quando, vejo um ou outro cuja frase me convence. Nesse caso, acho que vale a pena e faço questão de enviar para as pessoas que, acredito, vão gostar da ideia.  

Semana passada, vi esse aí em cima; achei legal e mandei para alguns amigos, entre os quais o Sílvio Afonso, um mestre da crônica que, às vezes, resolve postar alguma coisa.

Mas, além de cronista, o Sílvio é um poeta; meio pirado, mas um ótimo poeta. Pegou a frase, deu uma rearranjada e colocou no perfil (dele) do WhatsApp; ficou muito bom, por sinal.

Quando comentei, ele me disse: "É a mesma frase; eu só mudei a cor das palavras". E isso me trouxe um novo conceito, que ainda não consegui entender direito, mas é válido.

Perdida no HD da minha memória (75 anos: são muitos dados!), existe a vaga lembrança de um filme antigo, cuja protagonista não ouve as palavras; apenas as vê escritas, coloridas, no ar.

Sei que parece meio absurdo, mas já lhe ocorreu que as palavras têm cor? Esta foi a ideia que o Sílvio me sugeriu; e, quanto mais penso, mais me parece fazer sentido, na verdade.

Veja bem: "menina" não lhe sugere um tom de rosa? E "menino" não é em azul escuro? "Folha", com certeza, é verde; e "mar" varia entre o verde e os tons de azul claro. Ou não?

"Flor" pode ter diversas cores, dependendo de qual seja a sua preferida: amarelo para girassóis, vermelho ou branco para rosas. E "arco-íris", sem dúvida, nos traz todas as cores. 

Você pode dizer que essas cores não são das palavras, mas dos nossos condicionamentos. Mas tem certeza disto? Porque as palavras não nomeiam apenas coisas, não é?

"Poesia", "música" e "magia", têm todas as cores e todos os matizes; "tristeza", "desânimo" e "desespero", variam entre a cor do chumbo e o preto mais carregado de vazio e dor.

"Mamãe" não lhe sugere um tom entre azul e rosa, bem clarinho e protetor? "Segurança" é aquele pastel, bege e meio monótono, que traz paz. "Ciúme", com certeza, verde intenso.

Algumas palavras até mudam, com as circunstâncias e os anos. "Amor", na juventude, tem um tom vermelho vivo, quase vinho; na velhice, é aquela bela cor das folhas de outono.

E "saudade"? Tem aquele roxo triste, quando falamos daqueles que não voltarão; ou aquele dourado difuso, do amanhecer, quando mantemos a esperança de um doce reencontro.

Tem certeza que as palavras não têm cor?

Vídeo. Não sei se tem a ver, mas gosto da música.