UM DIA DE SAUDADE

Quando eu era menino, existiam dois dias em que não se podia ouvir música e brincar, lá em casa; meio veladamente, era proibido até sorrir ou fazer barulho.

Um desses dias era a Sexta-Feira Santa; uma espécie de luto por Jesus. O outro era o Dia de Finados, para mostrar respeito por aqueles que tinham partido.

Agora, quando escrevo, é novamente Dia de Finados. Mas muita coisa mudou, desde aquele tempo; mais tarde, pretendo assistir Goiás x Bragantino, na TV.

Mudam os tempos e as pessoas. Quanto mais se vive, mais se perde pessoas queridas; mas a vida continua e a gente também precisa ir em frente.  

Aí, aprendemos que saudade é uma coisa engraçada: ao tempo em que magoa, conforta; enquanto nos faz sofrer com a ausência, traz a sensação de presença.

De certa forma, a gente cultiva a saudade. Porque tudo se torna melhor e mais suave, quando visto através do filtro dos anos. As boas lembranças se impõem.

Nunca entendi a razão dos funerais. Velórios e enterros sempre me pareceram uma masturbação da dor; uma exibição pública de pesar, às vezes fingido.

Acredito que os sentimentos são algo nosso, que preservamos em nosso íntimo. Não vejo razão para promover solenidades, quando se perde alguém querido.

Mas entendo o Dia de Finados. Não como celebração da dor, mas de gratidão. Não para chorar a partida, mas para agradecer o tempo que tivemos juntos.

E é assim que me sinto, hoje; por isto, escolhi este dia para começar o blog. Sinto a presença de cada ser amado que se foi e não mais verei nesta vida.

Em outra? Talvez, se isso existir. Mas não me sinto triste por não poder vê-los; até porque sei que eles continuam a existir, dentro de mim. E ficarão aqui.

Porque é assim que acontece: os entes queridos continuam em nós, enquanto vivemos. Suas vozes e suas figuras continuam vivas, em nossa memória.

É uma coisa que aprendemos, com a idade: não podemos perder, senão o que temos. E é melhor agradecer porque tivemos, do que sofrer porque já não temos.

É assim que me sinto, em todos os dias; mas, hoje, essa sensação é mais forte. Recordo aqueles que já se foram; agradeço a eles e ao tempo que tivemos.

Nas lembranças, revivo momentos que passamos juntos. O carinho e o amor; a amizade, a troca de conversas e esperanças; a simples sensação de companhia.

E percebo que eles continuam vivos. E continuarão, enquanto eu estiver; em tudo que me ensinaram, nos sorrisos e nas lágrimas em que me acompanharam.

Sou grato pelas canções, pelos perfumes e lugares que tornaram especiais para mim. Por cada sorriso que trocamos e até pelas vezes em que discordamos.

Sou grato porque, graças a eles, este é um dia especial. Para mim, o Dia de Finados não é de dor, nem de angústia; é um dia de lembranças e gratidão.

Um dia de saudade.

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Comentários

  1. São outros tempos os de hoje..Aquele silêncio e respeito não vemos mais. E são tantas lembranças, temos saudades e prefiro sempre ficar com a doce saudade do que a sofrida! Lindo sempre aqui! abração, chica

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  2. Penso igual a você, Chica: também prefiro encontrar doçura, na saudade! Meu abraço, obrigado; bom fim de semana, amiga.

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  3. Boa tarde de paz, Flávio!
    Só agora percebi seu blog novo.
    É difícil trocar a dor pela saudade gostosa...
    Não consigo de alguns que se foram.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

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    Respostas
    1. E só hoje vi este comentário, Rosélia; desculpa-me pela demora na resposta. E concordo: quem perdeu entes queridos sabe que a saudade magoa; precisamos das boas lembranças, para seguir em frente. Obrigado, meu abraço, bom fim de semana; Feliz Ano Novo!

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    2. Não tem problema, Flávio.
      Bom final de ano com paz!
      Abraços fraternos

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  4. O assunto saudade é muito complicado para todo mundo...

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  5. Verdade, Rô; mas é como diz a música: pior é não ter de quem sentir saudade. :) Meu abraço, bom fim de semana, Feliz Ano Novo!

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