A GENTE SE VAI

 

Sim, a gente se vai.

É inevitável, e ninguém sabe quando; mas todos precisamos ter consciência desta verdade. Nada vive para sempre, neste mundo; e nossos corpos se deterioram com o passar do tempo.

No idoso, esta consciência é mais presente; as nossas limitações aumentam, dia a dia, e sempre nos lembram que a ida não é uma possibilidade, mas uma certeza. Todos nos iremos, sabemos.

Pessoalmente, tenho aceitado este fato e até espero que não demore muito. Pior do que partir, acredito, é permanecer e tornar-se um fardo, incapaz de cuidar de si mesmo e dependente de alguém.

Não me preocupo muito com isso; até porque é bobagem acabrunhar-se por algo que não se pode evitar. Muito mais sensato, acredito, é procurar viver o mais intensamente possível, em cada dia.

O importante não é o que se leva; até porque nada se pode levar. O importante é o que se deixa; não em termos de bens ou riquezas, mas nas lembranças que pessoas mais próximas terão de nós.

Esta, será a nossa maior herança: o que houvermos ensinado, os exemplos que tivermos deixado. Bens e riquezas se acabam, com o tempo, mas as lembranças e os exemplos sobrevivem às pessoas.

Pense portanto: o que você tem feito? Qual a opinião que as pessoas têm de você, como elas vão pensar em você, depois que se for? Sentirão falta, ou alívio? Darão o seu nome aos filhos, ou não?

Nisso, sim, eu penso às vezes. E não porque me sirvam homenagens póstumas, que acho completamente inúteis; não virei cheirar as flores que acaso me deixem, nem verei velas que acendam.

Mas gosto de pensar que serei uma saudade doce. Porque existem a saudade que magoa, que machuca; e aquela que traz em si a própria consolação, pela doçura das lembranças que desperta.

Gosto de pensar que contarão de mim as melhores histórias, não as piores; porque todos teremos ambas a serem contadas. Que se lembrarão de mim pelo que lhes trouxe, não pelo que lhes tomei.

Gosto de pensar que, ao ouvirem as "minhas" músicas, os seus olhos brilharão com uma lágrima de saudade; mas seus nos lábios haverá um sorriso de ternura e da alegria de haver-me conhecido.

Gosto de pensar que, apesar de todos os erros que cometi, fui capaz de levantar-me depois de cada um deles e seguir em frente; e este é o melhor exemplo que deixo, para as pessoas a quem amo.

Não quero que escondam os meus erros. Costumamos "santificar" as pessoas, depois que se foram, e nunca fui um santo; não me orgulho de meus erros, mas sim de haver aprendido com eles.

Porque é pra isso que a gente vem.

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