UMA HORA DE FOLGA


 Amanhã, vou tirar uma hora de folga.

E caminhar pela beira da praia, preguiçosamente, os pés afundando na areia alva e recebendo a tépida carícia das ondas mansas.

Vou esquecer os problemas de todos os dias, que tantas vezes me roubam o gosto de viver. Preciso viver um pouco, pois não sei em qual esquina a morte me aguarda.

Não vou pensar em política, nem no trabalho; em nada que possa remeter-me de volta ao mundo. Nesta hora, pretendo não pensar nem nos filhos. Tentarei estar fora do tempo e do espaço, sonhando os meus sonhos e vivendo as minhas ilusões, entre o mar e o céu.

Vou andar sem pressa, como se pretendesse chegar ao fim do mundo. Ou a lugar algum, porque a viagem que pretendo é para dentro do meu Eu verdadeiro; ouvindo os meus sons, vendo nascer as minhas flores e respirando os aromas de minha alma.

Por apenas uma hora, vou trancar as minhas feras. Preciso delas, para enfrentar o mundo, mas amanhã não quero ouvir os seus urros; nem ver as suas garras, que tantas vezes me ferem no afã de defender-me.

E andarei ao entardecer, para que a luz do sol não me castigue os olhos, nem o seu calor me faça suar; nem as pessoas possam ofender a minha solidão, com os barulhos da sua convivência.

Quero estar completamente sozinho, pois há muito não desfruto da minha própria companhia; não ouço as minhas perguntas e assim não consigo descobrir as minhas respostas. Fujo das minhas dúvidas e por isto não encontro as minhas certezas.

Amanhã, vou tirar uma hora de folga e caminhar, descalço, pela praia; depois, terei de voltar ao carro, tirar a areia dos pés, vestir o personagem e retornar ao mundo. Mas, por algum tempo, terei o meu mundo.

E, embora não chegue a lugar algum, pelo menos nessa hora estarei mais perto de mim mesmo...

(Música velhinha e quase desconhecida, mas adoro)

TBT. Publicado no Opiniaum, em setembro/2006. 

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